sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Determinismo e Livre Arbítrio no Mapa Natal


"O dia em que nasci, morra e pereça
O dia em que nasci, morra e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao mundo e, se tornar
Eclipse nesse passo o sol padeça…"

Camões


Tenho observado, desde há alguns anos a esta parte, que a conjugação de determinados aspectos astrológicos entre planetas no mapa natal, denunciam de forma clara um projecto cósmico face ao qual as pessoas têm um papel demasiado redutor, quase que me atreveria a dizer, que elas são apenas veículos da expressão desse desígnio “imposto” pelos céus.

É certo que alguns de vós discordarão reiterando que o destino somos nós que o traçamos, que somos os autores das nossas acções e decisões e, como tal, obreiros do nosso próprio fado. É legítimo que assim pensemos; o ser humano necessita, porque se trata de um aspecto securizante, acreditar que conduz os seus próprios passos ao invés de ser conduzido. No entanto, quando somos confrontados com situações recorrentes e imponderáveis, questionamos seriamente sobre o papel que cada um de nós tem na construção do seu próprio projecto existencial. É de Saramago esta frase - “o que tiver que ser meu às minhas mãos virá parar”. O que quererá o célebre escritor transmitir-nos? Também Manuel de Oliveira, grande cineasta português à espera do seu centésimo aniversário, disse há bem pouco tempo numa entrevista que concedeu a um canal televisivo que era totalmente responsável pelos bons e maus filmes que concebeu, mas, referindo-se à sua vetusta idade, ela não seria mais que um capricho da natureza.

Camões, poeta e astrólogo, tal como Fernando Pessoa, refere com rara subtileza em alguns dos seus poemas a relevância do céu de nascimento, atribuindo o seu infortúnio, à conjunção natal, Saturno-Júpiter e ao eclipse solar que ocorreu um ano após o seu nascimento. Talvez o poeta tenha dramatizado em demasia o papel de Saturno, que à época era ainda considerado o grande maléfico. É certo que Saturno ensombra e limita o carácter expansionista de Júpiter, mas não lhe retirou a genialidade e o temperamento guerreiro e independente que sempre o caracterizou; quiçá, o que considerou ser o seu algoz (Saturno), lhe tenha proporcionado o isolamento necessário à produção de tão notável obra. Camões teria seguramente merecido mais e ele sabia-o, porque era um homem com uma visão para além da sua própria época…mas Infelizmente em Portugal, poucos são, os que em vida, desfrutam da sua própria glória.

Deixo apenas estas considerações, como exercício de reflexão filosófica, retomando agora o tema que me trouxe aqui. Será que determinados mapas natais sugerem maior determinismo do que outros? É possível reconhecer os aspectos planetários responsáveis por esse determinismo? A minha resposta é afirmativa. Nas centenas de mapas que tenho analisado observei, que alguns deles, apresentam uma panóplia de aspectos desestruturantes, sobretudo os que aplicam Saturno e os planetas transpessoais, Urano, Neptuno e Plutão aos planetas pessoais – Sol, Lua, Vénus e Marte e que configuram aquilo a que poderemos chamar “factores de risco”.

Em contraponto gostaria de introduzir também aqui, o conceito de “factores protectores”, isto é, todos os aspectos que concorrem para minimizar a influência dos primeiros, como sejam por exemplo, os trigonos e os sextis de Júpiter ao ascendente, ao Sol, Lua e Vénus, para não citar outros aspectos, também eles prometendo a subtil fluência das energias cósmicas e uma acentuada crença no indivíduo como construtor do seu próprio horizonte. O que acontece então quando não se vislumbram factores protectores num mapa natal? Neste caso estamos perante alguém que, ou não controla conscientemente os seus comportamentos, ou se sente impotente face à ocorrência de situações que não domina e lhe limitam sobremaneira a sua capacidade de decisão.
Os aspectos astrológicos a que me atenho sugerem assim, um modelo padrão capaz de provocar um sentimento de alguma impotência, de revolta até, face a múltiplas experiências de sofrimento que podem parecer gratuitas, pela dificuldade em percebermos o seu sentido e significado. Mas nem sempre a revolta e a impotência estão presentes, é muito comum observar também, que as dificuldades não raro nos transformam o carácter, imprimindo-lhe firmeza, perseverança e fé, e, em alguns casos, asseguram a genialidade e a glória. Não esqueçamos, que figuras marcantes da história universal apresentavam mapas natais em que o predomínio das quadraturas e oposições eram um pronuncio de “má fortuna”, no entanto, esses desafios, em jeito de severas provações, revelaram-se janelas de oportunidade; foram um tempo para o auto conhecimento e para a criação de novos paradigmas de pensamento que marcaram de forma indelével o percurso de milhares e milhões de cidadãos anónimos.

Há sempre um sentido e um significado oculto para o existir, não tenhamos pois medo dos termos, fado, destino, fatalidade, provação; eles podem vir a ser o golpe de asa, a descoberta do nosso verdadeiro Eu, a certificação de uma fé inabalável, a centelha capaz de iluminar a humanidade. Não renunciemos pois ao que o cosmos nos oferece, mesmo que a tristeza, a solidão e a perda persistam em acompanhar-nos, jamais devemos deixar de lutar.

Fernando Barnabé

2 comentários:

  1. Excelente matéria.
    De fato esta questão DETERMINISMO x LIVRE ARBITRIO vem de longa data, sendo questionada pela humanidade.
    Mas também é verdade que, a exemplo da pérola que nasce do sofrimento da ostra, alguns destinos titânicos depuram o SER e arrancam de seu cerne o que Ele tem de divino.

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  2. Também observo a dificuldade de aceitação do próprio destino quando predomina no mapa o papel de um planeta transpessoal. É 8 e/ou 80, porque eles representam nossa característica transcendente. Ou a pessoa vai viver interagindo com isso, consciente da sua participação no coletivo, ou vai negar (ou desconhecer). Neste caso, quando não há assimilação desse conteúdo mais sutil e profundo, achamos todo tipo de desequilíbrio e de egocentrismo.
    Quanto a questão do oculto, também concordo que há não só um sentido, mas que ele é imprescindível para o existir.

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