sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Astrologia e o auto conhecimento



São inúmeros os problemas que enfrenta a Astrologia, ao pretender uma reformulação capaz de lhe devolver o reconhecimento e a aceitação que teve como disciplina leccionada nas mais famosas universidades até ao século XIX. Em regra, menciona-se entre outros motivos, o desprestígio sofrido pela mesma através de improvisadores que fizeram da Astrologia um método de adivinhação para fins meramente especulativos.

Se é certo que neste ponto radica um dos seus grandes problemas, podem, no entanto, apontar-se causas mais profundas e objectivas que provocam este menosprezo, como por exemplo o acento positivista que dominou o desenvolvimento da Ciência no Ocidente com a sua visão estritamente materialista da vida e da própria pessoa.

Quando investigamos em profundidade qual a concepção que uma pessoa tem sobre a vida, o que encontramos na realidade? Podemos perceber a existência na crença num Deus, de uma fé que nos transporta para uma outra dimensão descrita como transcendental, mas, por outro lado não conseguimos deixar de existir sem os laços que nos ligam ao mundo material com o desejo concreto de não o abandonar.

Outro aspecto a considerar é que, apesar de aceitarmos a existência de um Deus, ao mesmo tempo assumimos que a nossa vida está regulada por acontecimentos imponderáveis, imprevistos, ao ponto de aceitarmos cegamente uma descrição do nosso futuro se o mesmo coincide com os nossos desejos e anseios mais profundos.

Só neste caso, estaremos de acordo quanto a esta espécie de “pré determinação” da nossa vida; ao contrário, quando se trata de algo doloroso ou não desejável, a atitude mais comum será a negação. Isto significa que, a forma como concebemos a vida constitui um meio através do qual podemos satisfazer os nossos desejos pessoais. Nesta linha de pensamento, podemos assumir que dispomos da nossa vida como algo próprio e, face a ela, podemos exercer o nosso sentido de liberdade. A liberdade seria o instrumento através do qual realizaríamos o nosso objectivo pessoal, já que, como se trata da “minha liberdade”, não existiriam limites nem condicionamentos de nenhum tipo.

Por outro lado, os recentes descobrimentos ao nível da Física Quântica e as consequências que deles derivam têm vindo a afectar os distintos ramos da Ciência, impulsionando um crescente número de cientistas a modificar a sua concepção da realidade. Hoje, já não concebemos o Universo como algo puramente material, mas como um organismo complexo, em que cada uma das suas partes cumpre plenamente uma função.

Segundo este prisma, já não existe o “azar” ou o simples capricho dos acontecimentos, já que, nas experiências laboratoriais chega-se a detectar que cada átomo, ou melhor, cada parte integrante de um átomo, raciocina, quer dizer comporta-se como se soubesse de antemão o modo como deve actuar, demonstrando que nada fica ao sabor e capricho de leis desconhecidas.

Tudo isto veio afectar directamente a Astrologia que se viu impelida a efectuar uma revisão do seu enfoque; revisão que se tem vindo a operar desde o princípio deste século e cujo efeito mais relevante, consiste em orientar esta técnica para o estudo profundo da personalidade. De alguma forma, a moderna Astrologia diz-nos, através do simbolismo da sua linguagem, algo semelhante ao enfoque holístico da Ciência, já que, ao não ter como meta adivinhar ou predizer quais serão as experiências a vivenciar, considera que isso depende das decisões que cada pessoa possa vir a tomar.

A Astrologia pretende mostrar que todos nós somos um micro cosmos; parte de um TODO MAIOR, dispondo ao nascer, de um determinado potencial; o que nos propõe na realidade, é uma aproximação ao estudo e conhecimento profundo da nossa natureza mais íntima; quer dizer que pode representar o instrumento ideal para nos ajudar a conhecer os obstáculos a superar ou qual a direcção mais adequada para a canalização dos nossos esforços.

A Astrologia proporciona-nos descobrir uma rota, um caminho, facilitando-nos assim, a expressão conveniente do nosso potencial. Pretende mostrar-nos que, ao nascer, não somos uma “tábua rasa”, um papel em branco, mas pelo contrário possuímos uma “ história prévia”, composta por certas qualidades ou potencialidades que de algum modo nos capacitam para uma função determinada sobre a qual, geralmente, não temos consciência e só através de um trabalho interior é possível que cheguemos a assumi-la.

Constitui então um verdadeiro desafio alcançar esta dimensão para que possamos ser capazes de transcender a nossa habitual mecanicidade.
Este será o único meio possível para nos reconhecermos como pessoas, potenciando assim a nossa humanidade.


Fernando Barnabé




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